
Ernst Bergmann
Infância e juventude
Ernst Alexander Rudolf Bergmann nasceu na Alemanha, em Leipzig, em 4 de agosto de 1921.
De uma família abastada, de físicos e químicos industriais, cresceu em Leipzig, Berlim e Wiesbaden. Após a separação de seus pais, ainda na infância, Ernst passou a viver com a mãe, uma estudiosa da ciência e da astrologia. Seu avô e tios eram inventores – responsáveis por patentes de uma metralhadora, de carros, pistolas automáticas, da gelatina e de uma película para invólucro de salsicha.
Bergmann demonstrou desde cedo interesse por invenções e técnicas. Durante a Segunda Guerra Mundial, serviu como tenente de artilharia do Exército alemão, tendo atuado na Ocupação na França. Na Itália, lutou em Montecassino. Foi feito prisioneiro das Forças francesas e enviado à Tunísia. Como não mantinha simpatia ideológica pelo nazismo, falava várias línguas e tinha habilidades para efetuar os mais diversos tipos de consertos, os Aliados lhe deram diversos encargos, entre eles o de intérprete.


Pós-guerra
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, Bergmann voltou à Alemanha. Após um período de recuperação em um sanatório, foi contratado pelos norte-americanos como tradutor e mais tarde como técnico de reconstrução. Com o dinheiro obtido através desses serviços, adquiriu sua primeira câmera 8mm portátil, que levava consigo em todas as viagens que fazia. As primeiras imagens feitas por ele são registros de viagens por cidades alemãs (Colônia, Wiesbaden, Berlim), bem como pela Espanha e Itália, com destaque para Roma.
No fim da década de 1950, Bergmann foi enviado para a Índia, onde permaneceu por três anos para trabalhar na implementação de uma siderúrgica alemã. Com sua inseparável câmera, registrou no formato 8 mm aventuras impressionantes. Junto com uma equipe de engenheiros alemães, viajou de carro por regiões inóspitas. Bergmann também filmou o cotidiano dos indianos, como o costume dos barbeiros ambulantes de cortar e barbear os clientes nas ruas, a visita dos encantadores de serpentes, o mercado local, o circo, as festas no clube dos alemães e a inauguração da siderúrgica. Bergmann ainda esteve no Japão, em Hong Kong, no Egito, na Tailândia, na Arábia Saudita e na América do Norte antes de se mudar como engenheiro para o Brasil em 1960. Na bagagem, trouxe todo esse material audiovisual já revelado e catalogado.
Década de 60
Bergmann chegou ao Espírito Santo em 1960 como parte de uma equipe de engenheiros e técnicos responsáveis pela expansão da Companhia Ferro e Aço de Vitória e pela implementação do Porto de Tubarão. Pouco depois de sua chegada, conheceu a professora de ensino infantil Marilena Vellozo Soneghet Bergmann (Nena), com quem se casou em 1962.
Nessa época, sua câmera começou a registrar mais do que apenas transformações urbanas e arquitetônicas: seu olhar sensível capturou também o cotidiano dos trabalhadores nas siderúrgicas onde atuava. Entre os materiais do Acervo Bergmann, destacam-se as filmagens feitas ao longo dos anos no Espírito Santo, incluindo cenas do dia a dia e das mudanças na paisagem do estado.




Marilena Sonegth Bergmann (Nena)
A câmera também se tornou uma testemunha da vida pessoal de Bergmann. Seus registros familiares incluem momentos íntimos como o namoro, o casamento e os primeiros anos ao lado da mulher, que mais tarde se tornaria escritora. Nena esteve presente em grande parte das filmagens, seja em batizados, aniversários e brincadeiras com os filhos, seja em viagens ao lado do marido e de amigos.
Um dos destaques do acervo são as filmagens realizadas ao longo de uma longa viagem de lua de mel pelo Brasil a bordo de uma de Kombi em 1962. Durante quase cinco meses, Bergmann e Nena percorreram cerca de 15 mil quilômetros pelo Espírito Santo e por vários outros estados como Bahia, Alagoas, Minas Gerais (com destaque para as cidades históricas), Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Brasília, ainda em formação.



Na metade da década de 1960, Bergmann passou um período na Alemanha, onde exibiu as imagens do Brasil em cineclubes. Segundo Nena, os espectadores alemães ficaram surpresos com as cores vibrantes dos trópicos, chegando a suspeitar que Bergmann tivesse colorizado as imagens.
A seguir, Bergmann foi transferido para o Peru. Durante sua estadia no país andino, produziu um extenso registro visual, especialmente de sítios arqueológicos Incas, ainda praticamente vazios, antes do turismo em massa. Naquele momento, produziu imagens raras, feitas durante passeios em um Volkswagen com Nena – grávida e já acompanhada dos primeiros filhos. Bergmann também esteve a trabalho em Abidjan, na Costa do Marfim, por cerca de quatro meses, quando registrou toda sua experiência em solo africano. Seu olhar atento e detalhista resultou em um acervo visual único, preservando cenas raras de diferentes partes do mundo.

Décadas de 1970 e 1980
Na década de 1970, Bergmann se mudou para Osasco (São Paulo), onde continuou a trabalhar na área de siderurgia. A família cresceu, o casal teve cinco filhos, e durante as férias, viajavam com frequência para visitar a família de Nena na Praia da Costa, na Barra do Jucu e em Guarapari.
Bergmann passou a usar uma câmera Super 8, especialmente durante as férias no Espírito Santo e em São Paulo. Nessa época, com mais recursos, passou a catalogar os filmes em disquetes, mas sem destruir as fichas manuais anexadas a fichários e cadernos. Sempre atento às novas tecnologias, no final da década de 1980, Bergman passou a usar uma câmera de vídeo.
Os últimos anos
Quando se aposentou, na década de 1990, ele se mudou com Nena e os filhos para a Barra do Jucu.
Meticuloso e sistemático, Bergmann sempre se preocupou em acondicionar o material filmado da melhor forma possível e em criar um sistema próprio de catalogação. Até o fim da vida, revisava constantemente o material (ele havia feito cópias em DVD) e a catalogação. Seus últimos anos de vida foram completamente dedicados ao trabalho de rever e transpor seu acervo para novos suportes.
Os filmes estavam guardados em uma geladeira em sua casa, protegidos com sílica gel. Bergmann viveu ao lado de Marilena até falecer quase centenário, em 2015.
Com sua morte, Nena guardou os DVDs em casa, juntamente com todas as fichas e cadernos contendo as catalogações. Ela retirou as latas com os rolos da geladeira e os acondicionou em suas latas originais em um armário no porão de sua casa, sujeitos a fungos e umidade.